terça-feira, 29 de dezembro de 2009

É preciso é saber aproveitar.

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Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol.
Ambos existem; cada um como é.
Fernando Pessoa
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Há dias que ando com esta palavra na cabeça: ressoar. Fui ver no dicionário on line Priberam. Lá estava: ressoar | v. tr. | v. intr. v. tr.
1. Entoar, repercutir.
2. Fig. Cantar; tocar.
v. intr.
3. Soar de novo, ecoar.
4. Repercutir-se.
5. Ser sonoro; estrondar; retumbar.
Depois, troquei o "o" pelo o "u".
ressuar
v. intr.
Suar muito.
Descobri então que andei com a palavra errada na cabeça.
No dicionário da minha vida ressuar quer dizer andar de esfregona em riste a limpar a condensação do chão, paredes da cozinha e frigorifico até que chova, baixe a humidade e comece a chover fora e não dentro de casa. Quando começarão a nascer cogumelos na parede?

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Deve ser deve.

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Ai uixiu a méri cristemas. Ou lá o que é.

São quatro e meia da tarde e a fila para entrar no jumbo de Alfragide começa a estender-se pelos cabos d'Ávila acima. Ingenuamente penso tratar-se de um acidente, confirmo depois que não, é só a longa lista de pessoal no desemprego, avós, funcionários públicos em férias, subsidiodependentes e alguns, talvez poucos, que tendo cumprido a sua jorna, vão gastar o que têm e o que não têm (dignidade incluída) para festejar, num fogacho, mais uma noite vã. Celebra-se uma coisa precisamente pela negação daquilo do que com ela se queria proclamar. Isto para os que acreditam no espirito da coisa, que é universal e não estritamente religioso. Para os restantes será apenas mais um manjar romano.
O parque de estacionamento do centro está ao barrote. Arranjo lugar e vou à procura das parcas prendas de natal que ainda me vou obrigando a dar. Esta época do ano tem o condão de me pôr a cabeça em agua. Para quem não consegue andar imbuído do espirito fátuo da quadra, até comprar queijo e fiambre no super-mercado se pode tornar uma tarefa desesperante. Em qualquer sitio as filas são gigantes. Como se já não bastasse andar às compras ao som das canções de natal da Mariah Carey, esperar para pagar com os gritos histriónicos da Celine a gritar a very merry christmas and a happy new year aos ouvidos, torna-se numa tortura do som digna de qualquer campo de concentração. Felizmente em Abu Ghraib ninguém deve ler este blog para tirar ideias. Antes morrer na cruz. E de cabeça para baixo.
Janto e tento ganhar vontade para me enfiar noutro antro de consumismo, ali, no outro lado da Catedral, onde domingo se viu um banho de futebol debaixo de uma, inesquecível, noite de chuva épica abençoada por Jesus e seus discípulos. Tal como a chuva, o ataque torrencial, deixou o fêcêpê num pingo e os adeptos de alma benfiquista lavada. Salvou-se o Natal de 2009.
Vagueio pelo centro sem puto de ideia do que hei-de de comprar, de como fazer omeletes com os poucos ovos que me restam. Ás vezes acho que não conheço as pessoas, principalmente os que me estão mais próximos: do que gostam, o que lhes faz falta, qual o ultimo desejo. Devo andar muito distraído.
Desespero. Vou-me embora daqui. Esta gente é toda doida. Lojas num caos, encontrões pra lá, encontrões, pra cá, a roupa ao monte, tudo revirado, nos escaparates os cd´s de béstes ófes aos montes numa criteriosa desarrumação, na loja de perfumes, já sem oxigénio, apanho uma bebedeira de cheiros e quase sufoco. Para entender a brasileira que, simpaticamente, me atende, quase grito para que lhe ponham legendas nas mamas. Na porta de uma loja de roupa um segurança discute com uma preta. Pago o cachecol para uma sogra que não é a minha e saio dali.
Gastei um colhão de dinheiro e nada do que vou oferecer o irei dar com especial gosto ou critério. Cumpra-se a quadra, gaste-se o guito, engorde-se uns quilos, mas que se foda. É natal.
O dia salva-se com duas imperiais no sitio do costume e uns dislates sobre a nova música portuguesa, mulheres, cinema e as escolhas entre a prisão de uma vida pequeno-burguesa das oito ás cinco e a liberdade de viajar pelo mundo sem pensar no presente mas com iguais preocupações do futuro. O tal que a Deus pertence.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Com a ponte de segunda-feira passada, aproveitei para, em dois dias assistir ao compacto, não sei se, da Anatomia de Grey, se do Serviço de Urgência.
Só que ao vivo e a cores. Como ouvi no corredor alguém dizer, chego em Novembro, e com tanta espera, já saio em Dezembro. No sofá adormeço sempre, ali, há a vantagem de poder ser parte interveniente no episódio, é-se ao mesmo actor e espectador da acção (ou da falta dela) que vai escorrendo na passagem das horas. Procuro saber o ponto da situação, está tudo encaminhado, há que esperar resultados. Seja.
Uns vêm, outros vão, quase todos com má cara. Os olhares cruzam-se na interrogação, utente ou acompanhante. Na maior parte das vezes é evidente. Imagino a(s) história(s) de vida(s) por trás daqueles rostos. Na parede, cheia de gente, onde um papel avisa É expressamente proibido aguardar nesta zona devido à passagem das macas, encosto-me e descanso, enquanto as horas, lentamente, vão passando. Mesmo sem cadeiras, o corredor, acaba por ser menos deprimente que a sala de espera. Ali o amontoado é maior, e a televisão, fatalmente, ligada na TVI com as suas histórias de faca e alguidar, a puxar para a lagrima fácil bem ao gosto popular, só ajuda a aumentar o desespero de quem só quer um pouco de recato. Podia ser o canal oficial do Serviço Nacional de Saúde, mas no dia seguinte comprovo que, na sala de espera de uma clínica privada, é Goucha e a sua histriónica partenaire que também reinam perante a, aparente, indiferença de quem aguarda a sua vez. Mais um dia de salas de espera com TVI e quem começava a precisar de tratamento era eu. Psicológico.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Meto a chave à porta e a vizinha da frente abre a dela e chama por mim. Entro, e a sala com recipientes alinhados desordenadamente no meio do chão. O tecto com pingos de água que, agora que a chuva acalmou, caiem a conta gotas. Combino com a madame a vinda de um pedreiro logo pela manhã e abro a porta da minha casa. descubro, aliviado, uns pingos de água na minha sala e parece que é só. Fico mais descansado. Poiso a mala e vou direito a quarto. O colchão encharcado e o candeeiro a servir de fonte invertida deixam adivinhar uma noite mal dormida. Numa atitude Voltairiana, lembro-me das minhas dores das costas e o quanto eu queria mudar de colchão. Vem-me à cabeça o sem abrigo estacionado no banco do parque de estacionamento em frente à esquadra. Há sempre alguém pior que nós.
Vou à cozinha buscar o esfregão junto à marquise e mais água. Respiro fundo. Limpo a água, desvio as coisas, ponho os alguidarinhos no chão e aninho-me no sofá. Devia ter comprado um sofá de três lugares.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

A noite passada:

Dividiu-se em duas: a primeira em que adormeci no sofá a ver a Paula Moura Pinheiro (aquele charme, aquele cabelo, aqueles olhos, aqueles gestos, aquele traçar de perna. Fala do que quiseres mulher, estarei sempre lá pra ti) e a segunda em que fiz o transbordo do meu corpo para a cama. O meu sono mudou. O que até então tinha sido uma noite calma transformou-se numa noite de tumultos, em que quase acordei cansado. Tive a sensação de ter sonhado com muita coisa de que curiosamente ao acordar não me consegui recordar. Eu que me recordo com frequência do que sonhei durante a noite. Hoje tentei fazer o exercício de me lembrar o porquê de tanta agitação nocturna, não consegui. Do mal o menos; o ultimo sonho de que me lembro matei três pessoas, enfiei-as no porta-bagagens de um carro branco de traseira cumprida (estilo americano) e para caberem lá dentro, ainda lhes parti as perninhas pelos joelhos.

sábado, 31 de outubro de 2009

Lx Factory III. Ler de Vagar: há vida na rotativa.

Durante anos a rotativa deu vida às letras, agora são as palavras que dão vida à rotativa.
Ou serão estas que escolhem o aconchego daquele monstro mastodôntico para se deixarem estar entre lombadas, capas e contra-capas, vinhos, doces, música, artes plásticas e tudo o que por ali pode passar.

Lx Factory II

Lx Factory I

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Et Pluribus Unum (...e mais um titulo em latim)

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É bonito irmos buscar jogadores de tendões duvidosos e almas lesionadas e ter paciência com eles.
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Delirium Nocturnum (titulo roubado a uma cerveja belga)

Avanço.
Escrevo, emendo, volto a trás. Descarrego um parágrafo. Volto atrás. Não quero falar sobre isto. Recomeço com aquilo. As palavras não saem.
Backspace, backspace, backspace, backspace.
Vou por aqui. Não isto não tem interesse.
Backspace, backspace, backspace, backspace...
Alguma coisa tem interesse? Não, isto, não. Tenho sono. Shutdown. Talvez amanhã.
Não. Hoje vai. Já sei.
Tou sem paciência para escrever, isto vai ficar em branco uns tempos.
Isso já fica. Branco. Branco de ideias já ele é.
Backspace, backspace, backspace, backspace...
A vida anda demasiado insípida - e isso não é necessariamente mau - para registar aqui alguma coisa. Isto é um bom começo, mas,
backspace,backspace,backspace,backspace,
abrir o flanco para quê.
Generalidades. Boa! Vou por aqui, com ponto de exclamação e tudo. Agora que há uma petição na net para acabar com o uso dele cá vai, só porque sim, e pra chatear uma linha inteira deles. Logo eu que nem sou fã, embrulha: !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Enough is enough.
Não também, não. Talvez o Glorioso e as goleadas,
Backspace, backspace, backspace, backspace.
Esquece. Perdeu o encanto das coisas excepcionais e ganhou a vulgaridade das coisas triviais.
Mais nunca é demais.
Releio. Paro. Isto não faz sentido. Está surreal. Agora vai assim.
Assim como? Assim sem nada.
Volto a trás; quantos com o Braga, Porto, ou Braga. Porra tantos dilemas.
Não.
Caim e Saramago.
É parecido, José provoca Deus, Jesus castiga-os com ira esférica.
Não, caguei prás cretinices do velho. Deploro o homem, adoro o escritor. Quero ler o livro,
backspace, backspace, backspace, backspace...
E com esta merda toda também quero voltar à Bíblia. Não tenho tempo. Quero o Lobo Antunes e os Cavalos. Não há guito. Ou vai um ou vai outro. Vão os dois. Não dá. Levo o Saramago e a sua ironia. Não, Lobo Antunes. Com o Saramago nunca..., não, também aconteceu; fechar o livro a meio e voltar ao principio para perceber a história. Lembro-me agora, mas já foi há anos. Memorial do Convento. Talvez não tivesse preparado. Depois, com bilha de oxigénio ao pé, lá consegui ler de seguida, o primeiro parágrafo todo.
Quantas vezes já escrevi parágrafo neste texto? e de cada vez que
parágrafo
esqueço-me (e agora esqueço-me só à quarta tentativa, primeiro sem cedilha, depois com dois esses, agora sem u, porra estou mesmo mal)
do assento no "a". Pará, pa-rá-gra-fo. Assim.
O Tempo. Isso. Se não chover está um lindo dia de sol. Este indian summer que nunca mais acaba, gra...
backspace, backspace, backspace, backspace...
ia para escrever graças a Deus
(com caixa alta, pra chatear o outro, e se me der na gana rezo-lhe um padre nosso, como dizem os antigos, nas fuças do blog dele)
mas emendo que deus não é metido nestas alterações climáticas. E enquanto o mundo discutia em Copenhaga
(saudades, muitas. De tudo. De todos)
como controlar as emissões de CO2 para a atmosfera, eu tomava um banho de mar, nu em pelo, na praia de sta Rita onde durante o verão todo não consegui pôr uma unha dentro de água, porque está sempre gelada que até mirra os tomates e estão sempre os vagalhões do caralho, que um gajo pensa que entre morrer afogado ou morrer de calor, mais vale a segunda que sempre dá para aliviar com uma gelada.
Já me dói a cabeça de escrever esta merda sem sentido nenhum. Já passa das duas da manhã e pra escrever esta merda, mais valia estar a a dormir.
Não era nada disto que eu queria
backspace, backspace, backspace, backspace,
não quero escrever: não era nada disto que eu queria.
Vou dormir, foda-se, tenho que me levantar cedo.
backspace, backspace, backspace, backspace, backspace,
dói-me a cabeç
backspace, backspace, backspace, backspace, backspace,
não, doem-me é os olhos,
Publicar Mensagem.
Shutdown.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Sete vidas tem um astro

Parece que anda alguém a espalhar o realismo mágico dos romances latino-americanos pelos estádios da Argentina.

sábado, 10 de outubro de 2009

A quadratura do circulo

Chego ao carro em dia de suposta reflexão eleitoral e deparo-me com este paradoxo. Um homem que quer dar a coisa mais redonda que alguém de apelido Quadrado pode ter. E que ninguém duvide; lá cara é coisa que não lhe falta.

lovestória

Tomei o pequeno-almoço na Graça, no café do costume, onde a encontro por vezes quando lá vou ao fim-de-semana. Contou-me da sua história de amor mal resolvida e que, finalmente ao fim de vinte anos, as linhas da vida se voltaram a cruzar e que depois de dois meses de namoro e múltiplos orgasmos múltiplos, decidiram casar. Tudo planeado. Na próxima semana ele volta de Angola, ela pensa engravidar no fim-de-semana seguinte, ele divorcia-se em Maio, a criança nascerá em Julho, e casarão em Setembro. Desejo-lhe a maior sorte e volto ao carro.

Nobel da Paz ou fica lá com o menino nas mãos.

Ninguém merece que lhe ponham nas mãos a obrigação da resolução de todos os males do mundo. A originalidade deste ano de dar um prémio, não por aquilo que se fez, mas por aquilo que se espera que faça, tem ar de presente envenenado. Ao considera-lo um semi-deus estão a fazer com que, por muito que melhore o mundo, fique sempre aquém das expectativas e não tardara muito que não comecem a aparecer os primeiros que o passarão de salvador do mundo a demagogo cheio de retórica.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Prémio: "Já ninguém mais tem respeito pelos excessos de um artista".

Pensei que estava sozinho e já me chamava a mim mesmo reacionário, fascista e ultra conservador, quando descobri que afinal não era o único. É que até já estava com medo que o dr. Louçã me aparecesse em sonhos. Em pesadelos, digo.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

O que foi, já não volta a ser.

Há um momento, quase no fim de Cheri, em que Léa de Lonval - Michelle Pfeiffer, aparece em grande plano, de frente para o ecrã e toca levemente com a mão no seu próprio rosto. É uma cena simples e despida de adornos, em que somos levados a crer que a face da personagem está, naqueles segundos, a sofrer um processo rápido de envelhecimento e em que ela faz um balanço da vida e se confronta com a sua própria finitude. Ela com a dela, nós com a nossa.
Nada mais natural para um cínico do que participar num almoço de família, recentemente e não pelos melhores motivos, re-unida. Ma non troppo.
O hífen não aparece por acaso.

domingo, 27 de setembro de 2009

Depois de uma vitória de Pirro:

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?(...)
Carlos Drumond de Andrade; José.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Foi preciso subir, no final da tarde ao Terraço, a esplanada do Chão do Loureiro, para aproveitar e acabar de vez com a Viagem do Elefante, que, coitado, já devia estar farto dela. Seguramente por culpa de quem o lia, obrigando-o, além das paragens da Viagem em si, a outras em cima da mesa de cabeceira ou do móvel da televisão, aguardando o avanço de mais um capitulo. Mais desagradáveis terão sido as constantes viagens entre Lisboa e Massamá, dentro da abafada mala, que o Elefante foi obrigado a fazer, sem que isso se reflectisse obrigatoriamente no avanço da sua leitura. Apesar do frio e do gelo, ele deve continuar a preferir caminhar em montes austríacos, do que ser passeado dentro de uma mala no IC19. Mereceu, portanto, o paquiderme chegar à fria Viena de Austria e ao final da história, empurrado pelos goles de uma caipirinha sob o sol quente de Lisboa. Aquela a quem Frank Sinatra dedicava I've got you under my skin directamente do sonoro da aparelhagem da esplanada. Lisboa colasse-nos à pele.
Ao que parece a concessão está a acabar, e uma das esplanadas mais bucólicas, dolentes e democráticas de Lisboa - porque transversal e acessível a todos, vai dar lugar a mais um restaurante de luxo, que será, evidentemente, acessível...a quase ninguém. 

Silêncio

Isto é um open space, um espaço aberto em que tudo é comunitário, mesmo que não queiramos. E assim durante a hora de almoço deles; o mac do chefe, em frente a mim, tem música a tocar, o mac do meu colega do lado solta som pelos headphones, o pc da recepcionista espalha as ondas da Comercial como que saídas de dentro de uma lata, o portátil do account esgana-se com house, e eu duvido se não estarei a entrar numa espiral de paranóia sónica contra a música espalhada pelo meio da sala.
Ponho os phones, mesmo sem querer ouvir música, apenas para servir de barreira sonora ao mau gosto alheio, que sinceramente não pedi e obviamente dispenso sem grande remorso.
Desconhecia que era preciso ter uma profundidade intelectual e filosófica tão grande para viver em Lisboa; pensei que teimosia e paciência bastassem — além de um grande amor que não espera nada em troca, apenas que, não a melhorando, também não a estraguem mais. É que é preciso resistir a essa gente que tenta fazer da cidade um sitio exclusivo para ricos, classe média alta e estrangeiros viverem,  como se resiste ao transito selvático, ao caos urbanístico e às sucessivas promessas (repetidas despudoradamente) em tempo de campanha eleitoral por candidatos a caciques que governam em proveito próprio ou das organizações em que militam.
Querem exibir riqueza e desfilar no Chiado? pois sejam bem-vindos. Ajudem o comércio local. Mas depois façam o favor de voltar para os condomínios de Belas, comer fofos e jogar golfe, ou para Cascais, andar à vela e falar anasalado. Repito, mais vale meia assoalhada em Lisboa que quatro fora. Vão se foder. A mim não empurram para um T2 no Cacém ou na Baixa da Banheira, mesmo com closett, banheira de hidro-massagem e garagem.
Lisboa é uma cidade do povo e só o povo lhe pode dar a alma a luz e o colorido que tanto(s) lhe gabam. Pelo menos aqui, nesta Lisboa que eu amo.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

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Moutinho ao marcar a grande penalidade a favor do Sporting, tentou fazer a paradinha à Simão. Pena ter-lhe faltado a naturalidade dos génios.
E o que escrevi disse-o sentado a uma mesa, por ironia do destino, no café do cinema onde vi o filme. Divagando num longo monologo monopolizador de conversa, disfarcei como pude as minhas incompetências no relacionamento humano; não sei se sem causar enfado na interloctora com que tive a oportunidade de beber uma cerveja belga, algo doce, que espero no futuro não me venha trazer algum amargo de boca. Mas que se lixe, não estávamos a falar de liberdade de escolha, livre arbítrio e necessidade de arriscar?

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Nem Salaviza mostra Chelas - mesmo ela estando lá imponente e inteira - nem Ang Lee conta Woodstock. O que ambos mostram é a liberdade, ou falta dela e os custos a suportar pelas decisões tomadas. E é isso que incomoda e inquieta quem preferiu o conforto de uma vida pré-formatada ao risco de uma vida mais libertária. Nunca se saberá o que não foi, e deveria ter sido.
Primeiro Arena cheio de silêncios perturbantes a desembocar num final simplesmente desconcertante (ou melhor; desconcertantemente simples), depois Taking Woodstock, não pela realização mas pela temática à qual o mítico festival apenas serviu de trave. Não ficam na galeria dos meus filmes preferidos, mas os ténues reflexos que vi projectados no ecrã em ambos, chegaram para que saísse da sala com inquietações melancólicas que nem a vitória do Benfica e a companhia de amigos fizeram desvanecer.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Golo, golo, golo, golo, golo, golo, golo, golo

I'm gonna fight 'em all A nation army couldn't hold me back They're gonna rip it off Taking their time right behind my back

Para ver em modo repeat.

Os deuses devem estar loucos.

Atrás de mim um puto, preocupado, perguntava ao pai: o que é que acontece se o Benfica marcar o sete? O sete, marcou o sétimo e matou a curiosidade do puto. O Setúbal, esse, já tinha morrido antes do intervalo. Ainda pensei que já nem voltasse após. Por falta de comparência só perderia por três; talvez fosse melhor, mas julgo que a lei não se aplica a meio jogo. É pena. Ou não.
Deus nosso senhor quando criou o mundo descansou ao sétimo dia, os deuses comandados por Jesus, não só não descansaram ao sétimo como ainda marcaram o oitavo para desespero do treinador do Setúbal que estava completamente, digamos, às azenhas. É próprio dos deuses serem magnânimos e a piedade e complacência só os tornam mais humanos, por isso, o tento de honra dos adversários mesmo ao cair do pano.
Confesso que tive alguma dificuldade em concentrar-me dentro das quatro linhas; ali, mesmo junto à linha lateral Jorge Jesus dá um espectáculo dentro do espectáculo, com as suas indicações guturais para dentro do campo em gestos largos e modos viscerais, vai sempre corrigindo o que houver a corrigir. Mesmo que já estivesse-mos na fase bater-no-ceguinho. Mais um golo ou cinco minutos de jogo e a coisa até já se estava a tornar enfadonha. Nem vale a pena achar o feito extraordinário, de facto, este ano, esta vai se tornar uma das muitas vulgares exibições do Benfica.

sábado, 29 de agosto de 2009

Férias#11: fim.

Finalmente ontem, lá fiz a minha estreia no Faustino nesta época balnear. Não fui o único, e essa deve ter sido uma das razões porque os caracóis, as saladas de polvo e o pão alentejano torrado, servido já com manteiga, vieram muito, e em força para a mesa. As imperiais também caíram bem.
O petit comité que tem feito férias esta semana, hoje, lá seguiu de novo para mais um dia de sol e toiros. Assámos umas sardinhas e umas espetadas e fomos a caminho da praia de garrafa de branco em riste afogar as magoas do fim das férias. O tempo deu uma ajuda e o vento que fez companhia durante a semana, hoje meteu folga e a praia estendeu-se até o sol cair no mar e por lá se esconder. Aquela luz amarelada e a linha de Sintra ao longe na bruma, a fazer lembrar que segunda é dia de trabalho, trouxeram uma melancolia de fim de festa, e a certeza de prazer cumprido.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

férias#10: mais peixe, criancinhas e leituras adiadas.

Se quarta-feira nos foi dado ver uma enorme variedade de peixes ao vivo e a cores, ontem, no Clube Naval de Setúbal, voltamos ao tema mas na vertente assados e na brasa. O peixe fresco, embora morto, que passou pelo prato, quase que rivalizou em quantidade com o que vimos no dia anterior dentro do grande tanque. Com a vantagem que este teve a acompanhar três litros de sangria branca para refrescar o palato. Depois de acabar a peixificina, seguimos para a Arrábida, onde nos esperava uma das melhores tardes de praia deste verão. Graças à pequena ditadora que nos tem acompanhado por estes dias, não foi difícil esquecer o quanto o bandulho ficou pesado e fazer a digestão. Ela sabe como monopolizar, quando quer, as atenções, da melhor e da pior maneira. O dom de toda a pirralhada é esse, fazerem-nos esquecer tudo o resto para lhes darmos atenção, fazendo-nos, por momentos, subir aos céus ou descer; ao pior dos infernos. Felizmente, decidiu ir pela primeira opção e lá ficamos, eu, a mãe da criatura e a criança ela mesma a chapinhar o resto da tarde ali mesmo junto ao mar, enquanto na toalha o pai ficava, por momentos, surdo e solteiro, a se dedicar à actualização das noticias desportivas.
É por estas e outras que o Elefante do Saramago, que seguiu ligeiro os capítulos até Figueira de Castelo Rodrigo, ficou por ali acampado na fronteira, à espera dos Austríacos e de mim, que lhe vire a pagina para que siga viagem. Hoje, vou tentar dispensar-me da construção de castelos, jogos de bola e molhadelas à beira mar, e voltar à fronteira espanhola para pôr o paquiderme na rota da corte Austríaca. Quem os fez que os embale, diria a senhora minha mãe, com um dito para cada ocasião. Mas não faço promessas; porque a vida ri-se de previsões e põe palavras onde imaginámos silêncios, e súbitos regressos quando pensámos que não voltaríamos a encontrar-nos. José Saramago, A Viagem do Elefante.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Férias#9: O Oceanário.

Tão fascinante como a vida dentro do grande tanque, é afastarmos-nos dois metros do resto da turba que está de férias em Agosto e observar o seu comportamento animal. Recebesse eu dez euros por cada fotografia tirada com o proibido flash e agora estaria rico. A esquizofrenia de quem passa é tanta que chego a pensar qual dos lados do vidro observa quem; se o lado dos secos ou dos molhados. Na sua tranquilidade aquática, desconfio, que os peixes devem pensar que no Terreário que lhes é dado observar só vive gente com comportamento estranho. Estes humanos são loucos, pensarão eles lembrando com saudade o tempo em que se lhes dirigia a eles um humano com sermões e algo de útil para lhes ensinar. Vou esperar por um mês mais calmo para gozar o sítio com mais (enfim) tranquilidade. Devagar e longe das confusões Agostianas.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Férias#8: Lisboa, Lisboa.

Voltei a casa e por aqui espero acabar as férias, afinal um dos sítios preferidos para estar. Entre livros e discos e dvd's em atraso, umas idas ao cinema, esplanar por aí, uns copos à noite. E praia. Costa, Meco. O que der. "Sem ontem nem amanhã". Pelo menos até segunda. O tempo começa a escassear. Preciso de Férias. Mais.

sábado, 22 de agosto de 2009

Férias#7: de volta à família.

Lá cheguei ontem, junto ao almoço depois de quase cinco horas de viagem em que foi inevitável ir parando à medida que atravessava o Alentejo para tirar mais umas fotos em sítios onde, como diria o outro, não há nada para ver. E como não há nada para ver! Graças a Deus; só silêncio e montes amarelecidos pelo sol. Apetecia ficar mas há que seguir viagem. Em Santa Rita o vento forte que no Algarve soprava quente, aqui vem frio, mas mesmo assim o povo não desiste e de camisola vestida, de toalha enrolada ou, os mais afoitos, mesmo sem nada, lá vão ocupando o areal absorvendo no corpo a brisa e o odor marítimo que marcam presença. Com algum engenho lá se consegue estar na praia, primeiro, e na esplanada, depois, sem ficar exposto ao vento, ao som das batidas atlânticas.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Férias#6: praia, Benfica, carapaus.

O dia correu manso e sem história; praia de manhã e à tarde e um almoço pelo meio com dicas preciosas sobre pinturas de casa. Guardámos as dicas na memória que ontem a coisa não esteve de feição para pincel e trincha. Carpe Diem.
A noite, essa, trouxe de Vorskla ao Benfica a vitória que Poltava e uns carapaus pequenos, do melhor de que me lembro ter comido, apanhados na noite anterior e que chegaram à mesa pelas mãos de um pescador em troca de uns figos para fazer aguardente no intervalo das artes da pesca.
Hoje, mal desligue o computador, sigo viagem de modo a evitar a canícula alentejana e chegar à Lourinhã a tempo de brindar com a senhora minha mãe ao seu aniversário.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Férias#5: sol, suor e cerveja

Não consigo dormir. São 6.30 da manhã e apesar do vento norte que corre fresco e forte lá fora, a casa está quente e eu escorro suor. Estranho a cama. A porta do quarto bate devido à corrente de ar e uma melga que tenho por companhia faz voos rasantes aos meus ouvidos com o seu zumbido incomodativo. Hoje não foi a minha noite. Abro a portada do quarto que dá para a rua e saio para apanhar ar e refrescar o quarto. Mijo ao ar livre com a primeira luz do dia, os cães fazem o seu papel de guardas e vêm ver quem está a mijar fora do penico. Acaba por ser um dos cachorros de meses que ladra e dá o sinal; os outros mais velhos já me conhecem de outros carnavais e seguem o seu caminho. Volto ao quarto, deixo a portada aberta e, com o começo do dia, parece que o vento também acalma.
A ser assim, talvez hoje, corra tudo como ontem; praia de manhã, com a água mais quente que apanhei em Portugal nos últimos anos (isto se a nortada não virou a maré e hoje ela estiver mais fria), umas pinturas na casa que se anseia habitada de novo brevemente, uns banhos na piscina do restaurante para tirar a tinta do corpo e um jantar às onze da noite com um Algardoce para finalizar o repasto. Tudo marcado pela cadência das cervejas que vão refrescando o dia.
Venço a melga. Vou tentar dormir mais um pouco. Ou arranco com o Saramago.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Férias#4: Lisboa, Alentejo e tudo.

Engano-me a mim próprio. Vivo a ilusão de ter queimado todas as calorias acumuladas no fim-de-semana numa singela corrida junto ao rio depois de uma noite bem dormida na minha cama e antes de rumar a sul. Julgo ter visto nos míseros pingos de suor que caíram no chão da expo resquícios de queijo da Serra, cabidela e algumas minis Sagres e SuperBock.
Retoco a trouxa e sigo para o Algarve. Entro no Alentejo depois das duas da tarde sem ar condicionado e debaixo de temperaturas, segundo o termómetro da viatura, a rondar os 40 graus. Nada nem ninguém se atreve a pôr os cornos de fora sob aquele sol abrasador. Os montes amarelados a perder de vista são uma paisagem que tem tanto de crua como de sublime e as oliveiras que se espalham por eles são as únicas coisas que se aguentam estoicamente de pé no silêncio tórrido daquelas planícies sem fim. Paro na Mimosa e arrisco a comprar dois queijos de Serpa amanteigados (onde é que eu já vi isto) que hão-de servir de entrada para o jantar de chegada.
Cinco horas e algumas paragens depois, chego finalmente à Caramujeira ávido de uma lambreta SuperBock que bebo de supetão antes mesmo de acabar de falar ao pessoal todo que estava na esplanada. Entre minis e banhos de piscina a conversa só acabou de ficar em dia após o jantar tardio no alpendre da casa em que ficarei por estes dias.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Férias#3: A Serra.

É inevitável; não se pode estar no pé da serra sem ser atraído pelo seu magnetismo natural. Domingo, voltámos a ela sempre em subir.
A manhã em Seia foi passada em modo chillout na esplanada, cheia de bom gosto e calma, do Museu do Pão a ver a região a estender-se aos seus pés numa dolência própria de um domingo quente de Agosto. A mercearia do museu, como de resto tudo no museu, é um regalo para os sentidos. O cheiro do pão, dos queijos e enchidos, as filas de compotas variadas, azeites, aguardentes, especiarias, a decoração com objectos antigos de casas rurais, tudo ali convida a ficar, como numa igreja, numa contemplação sem fim. 
Depois de um almoço ligeiro continuámos a subir em direcção à barragem de Vale do Rossim onde estivemos a banhos durante parte da tarde até descermos de novo para o empate do Benfica. A estrada convida a ritmos lentos para regalar a vista pela paisagem semi-desnudada de fragas e vegetação rasteira que vai passando e pelos cheiros com que esta vai perfumando a Serra. Encantaram-me os tons vermelhos-alaranjados das arvores que ladeavam alguns lances de estrada, sei-o agora; são tramazeiras, e por elas entretive-me a bater umas fotos, enquadrando-as com a barragem em fundo, na esperança der reter a fotogenia de ambas. Receio que sem sucesso.
Claro que hoje segunda-feira, depois das despedidas dos companheiros de estadia, não resisti e com o amigo que me acompanhou no regresso a Lisboa, lá voltei e não saí de lá sem vir atracado a um queijo da Serra que já ficou na Lourinhã e uma garrafa de medronho que segue amanhã para o Algarve.

domingo, 16 de agosto de 2009

Férias#2: o pecado da gula.

O meu relógio biológico, o alcool, o calor e o colchão que lentamente se foi esvaziando durante a noite continuam a fazer com que venha escrever posts madrugadores. Um dos objectivos da viagem já foi cumprido: deslocarmo-nos à encosta norte da Serra da Estrela à vila de Folgosinho para jantar alarvemente no restaurante Albertino. O quase manjar romano de cabidela, cabrito, leitão, vitela, javali, leite creme , arroz doce, melão, café e bagaço é uma violência para qualquer comensal menos preparado. A sorte é que estamos em Agosto em plena altura de festas e romarias e nada melhor que ir moer a refeição para um clássico bailarico de verão de uma aldeia próxima.
São oito da manhã e ouve-se os foguetes de uma aldeia vizinha. O dia arranca, suo uma mistura de calor de casa quente com vinho e cerveja da noite anterior. Vou tomar banho e sair prá rua.

sábado, 15 de agosto de 2009

Férias#1: a partida.

O dia começou assim e as férias também. Pertence à galeria de dias em que eu não gosto especialmente de andar de carro mas a certeza de boa companhia e de um fim-de-semana em grande superam a alergia de dias típicos de inicio e fim de férias, vésperas de natal, ano novo e páscoa em que todos vão cheios de pressa para serem os primeiros a espetar a bandeira na lua. Ás oito junto-me aos amigos e seguimos em caravana de dois carros até às bandas de Viseu para um sitio que não tive curiosidade de procurar na net onde e como é. Boas férias para mim.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Canhotices à parte. Ele anda aí.

Intervencionistas de todo o mundo: uni-vos!

A minha duvida sobre se me hei-de deslocar ou não ao Campo Pequeno dia 26 de Outubro é saber se não sairei de lá com cãibras no braço esquerdo e punho cerrado para enfiar nas fuças do primeiro fascista que encontrar na rua.
P.S.: no post a baixo já comecei com um ligeiro formigueiro.

Era, era.

Era uma crise tão grande, tão grande, que a primeira coisa que fez foi comprar um barco para fugir a ela.

domingo, 9 de agosto de 2009

Quinta do Todão - reserva 2006

11€ de vinho muito bem empregues.
Para beber com comidinhas fortes típicas de verão. Tipo bacalhau com grão.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Nível Zero

Quando se pensa que o jornalismo chegou ao nível mais rasteiro da sua existência, há sempre quem consiga cavar um pouco mais fundo. Pior que jornalistas que queiram vender jornais é haver (tristes) protagonistas que se prestem ao papel. Para a infelicidade imensa dos jornais o episódio não foi passado com o Benfica se não não seria um dia de capas ridículas. A coisa renderia uma semana inteira para gáudio de quem ganha a vida a escrever sobre nada.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Com o fim da semana e o fim-de-semana chegam também ao fim os meus dias de transportes públicos. De transportes publicos e algumas boleias ao final do dia de uma colega que diz que eu sou a faísca num campo de palha seca e fica irritada porque lhe respondo que não consigo ver nisso outra coisa que não um elogio.
Devolvem-me o carro pronto. Quase. O tubo, o tal que é mais raro que pérolas em casca de ostra, ainda não foi encontrado e portanto, mais dia menos dia o carro volta à oficina e eu voltarei ao combóio. O restauro de um D. Élvira, com as suas peças arcaicas e décadas de história demora, mais ou menos, o mesmo tempo.
Pensava nisto enquanto me vinha à cabeça Gente humilde, de Vinicius de Moraes e observava as pessoas e o triste, desordenado, planeamento urbanístico que acompanha a linha férrea da viagem até Massamá, feita com um travo de melancolia de quem já se começava a aperceber das rotinas das viagens feitas, religiosamente, todos os dias, às mesmas horas, numa sensação de dejá-vu contínuo:
O homem de calções e camisola preta de manga à cava, cheiro a perfume acabado de pôr, tirante de ouro e pêlos de fora com quem me cruzo na Rua de Stª Apolónia junto à ex-Quinta dos Peixinhos; o casal que se despede na estação de metro do Jardim Zoológico em longos beijos de bico de pássaro, até ao piin-piin das portas das carruagens a fechar, como que a sentenciar: acabou o tempo, cada um pra seu lado; A preta gorda de gestos voluptuosos dentro da sua farda de mulher da limpeza encostada a uma parede da estação de Barcarena enquanto espera não sei quê; o homem, com sotaque de imigrante retornado, do meu primeiro café da manhã que a cada duas a três palavras repete a palavra "senhor" — bom dia senhor, senhor o que vai ser senhor, mais alguma coisa senhor, volte sempre sr. Volto. Claro que volto. Sempre que o tubo estiver para dar o ar da sua graça, eu volto.
Prá semana a outra rotina volta. Mas de carro. Outras caras, outra situações:
O dono da taberna que varre as beatas da porta para a paragem do autocarro às 7.30h da manhã; o senhor do café, que não me trata por senhor, apaga o cigarro e entra pra dentro para tirar um café mal me vê a fechar a porta da rua; a mulher que toma o pequeno almoço e todos os dias corta nas colegas com quem vai estar dali a vinte minutos, ao senhor do café, que eu trato por senhor;
(e agora sou eu que repito senhor)
a dona do Retrivier que o passeia e me diz bom dia naquele ar de matriarca decidida; o transito da 2ª circular e o filho da puta-cabrão-do-caralho que passa o traço continuo na sua velocidade de empata-fodas e que porventura estará agora a escrever no seu blog que: "um filho da puta-cabrão-do-caralho passa o traço continuo na sua velocidade de empata-fodas"; e ao chegar ao trabalho, cada um no seu dia: o porteiro de cabelo pintado e aperto de mão gelatinoso; o porteiro brasileiro meio florzinha, de sapatos três números a cima, com a sua sempeterna boa disposição qu' até irrita; o outro porteiro brasileiro na sua cor de peão-boiadeiro e ar de bufo do patrão;
a todos digo Bom Dia.
E o dia começa.

Where The Wind Turns The Skin To Leather

1. put your itunes / ipod (or your mp3 player of choice) on shuffle. 2. for each question, press the next button to get your answer; 3. YOU MUST WRITE THAT SONG NAME DOWN NO MATTER HOW SILLY IT SOUNDS!).
IF SOMEONE SAYS "IS THIS OKAY" YOU SAY?
We'r Not Going Back. The Housemartins. Se está Ok, voltar atrás pra quê?

WHAT WOULD BEST DESCRIBE YOUR PERSONALITY?
Pastime Paradise. Patti Smith cover.
WHAT DO YOU LIKE IN A GUY/GIRL?
Left Behind. Zero 7. Sou um perverso.
WHAT IS YOUR LIFE'S PURPOSE?
Lover. Dave Brubeck. Sem sucesso, diga-se.
WHAT IS YOUR MOTTO?
Baby. Gal Costa. Nem tanto, nem tanto...
WHAT DO YOUR FRIENDS THINK OF YOU?
Tumbling Dice. Rolling Stones. Entre outras coisas piores.
WHAT DO YOU THINK ABOUT OFTEN?
Prenda Minha. Caetano Veloso.
WHAT IS 2+2?
O pastor. Madredeus. humm...não gosto desta. O pastor? na montanha; e depois aparece outro pastor e está frio. Onde é que já vi isto?
WHAT DO YOU THINK OF YOUR BEST FRIEND?
Salmo II. Da Weasel.
WHAT DO YOU THINK OF THE PERSON YOU LIKE?
Nowhere Fast. The Smiths.
WHAT IS YOUR LIFE STORY?
Feelin' Good (Joe Claussell Remix). Nina Simone. Mais do que a maioria do mundo. menos do que gostaria.
WHAT DO YOU WANT TO BE WHEN YOU GROW UP?
A Tonga Da Mironga Do Kabuleté. Vinicius de Moraes. Sem síndroma de Peter Pan, mando todos pra lá com votos de muitas felicidades.
WHAT DO YOU THINK WHEN YOU SEE THE PERSON YOU LIKE?
I'll Be your Mirror. Lou Reed. À sua imagem e semelhança.
WHAT DO YOUR PARENTS THINK OF YOU?
Suburbia. Pet shop boys. suburbano??? eu??!!
WHAT WILL YOU DANCE TO AT YOUR WEDDING?
The 59th Street Bridge Song (Feelin' Groovy) (Album Version). Simon & Garfunkel. Porque não? Já há musica, falta o resto...
WHAT WILL THEY PLAY AT YOUR FUNERAL?
Easy Living. Bryan Ferry. Nada como uma ironia para acabar.
WHAT IS YOUR HOBBY/INTEREST?
A novidade. Gilberto Gil. É uma demanda constante.
WHAT DO YOU THINK OF YOUR FRIENDS?
Going, Going, Gone. Stars. Mea culpa, o defeito é meu.
WHAT'S THE WORST THING THAT COULD HAPPEN?
A filha da Chiquita Bacana / Chuva, suor e cerveja. Caetano Veloso. Se isto é o pior, aguardo ansiosamente o melhor.
HOW WILL YOU DIE?
Não Identificado. Gal Costa. Xiii, vai ser em grande. Vou comprar uma caixa negra pra colocar debaixo das costelas.
WHAT IS THE ONE THING YOU REGRET?
O Porto Aqui Tão Perto. Sergio Godinho. e ainda não conhecer Serralves.
WHAT MAKES YOU LAUGH?
Eu vim da Bahia. João Gilberto. É mais imaginar que um dia ainda vou lá.
WHAT MAKES YOU CRY?
Ne Me Quitte Pas (If You Go Away). Nina Simone.
WILL YOU EVER GET MARRIED?
No Woman No Cry (live). Bob Marley. Não chores, talvez um dia...
WHAT SCARES YOU THE MOST?
Super Cool. Carrie Riley & The Fascinations
DOES ANYONE LIKE YOU?
Esoterico. Gilberto Gil.
IF YOU COULD GO BACK IN TIME, WHAT WOULD YOU CHANGE?
You My Lunar Queen. Cousteau
WHAT HURTS RIGHT NOW?
When Tommorrow Comes. Eurythmics. Sim, há amanhãs muito difíceis. Amanhã é um deles, com sardinhas, vinho verde, sol e a família reunida. Oh como vai doer...

WHAT WILL YOU POST THIS AS?
Where The Wind Turns The Skin To Leather. Arizona Amp And Alternator. A brisa do mar mais o classic brown sob a minha pele vão dar-lhe aquele tom de cabedal curtido que as fazem mandarem-se todas pró chão.