segunda-feira, 30 de março de 2009

Cohen. De novo.

Chego ao trabalho e oiço de uma assentada o seu novo disco ao vivo. Aqui. E reparo que volta a substituir num dos versos de The Future o powerfull sex pelo anal sex do original. Pudor aos 75 ou falta de oilinho?
"Give me crack and anal sex 
Take the only tree that's left 
and stuff it up the hole 
in your culture"
Há uma imponderável no post anterior. A não ser que acreditasse em bruxas - pero que las hay las hay - mesmo que adormecesse em casa, não acordaria com gargalhadas de outros. Não por sono pesado, mas pela ausência daqueles.

Em Bruges- 2ª tentativa

Para não adormecer a espaços e acordar a meio de gargalhadas, como no dia que o vi no cinema, optei por rever com os olhos bem abertos, "Em Bruges" ás 6.30 da manhã antes de vir trabalhar. Já vi uma hora de filme. Falta o resto. Fica pra mai' logo.

domingo, 29 de março de 2009

Vou prá Expo fazer uma corrida dominical. Não gosto do dia para o fazer, muita gente. Como era cedo - não tão cedo quanto julgei, o tempo, num salto de lebre, na calada da noite adiantou-se uma hora - arrisco. Quando eu vinha pra cá, ainda estavam os domingueiros a ir para lá. Safo-me a tempo. Domingo de manhã é daqueles dias que se não madrugarmos, arriscamos-nos a trocar, involuntariamente, um jogging por uma gincana no meio da turba de ciclistas trajados a rigor, que retemperam forças dois kms à frente; velhos que tentam contrariar as artroses; crianças em histeria por mais uma queda de triciclo e oxigénio a mais nas faces; donas de casa redondas que pensam que a coisa vai com uma passeata ao domingo, enquanto discutem entre si se logo à tarde pasteis de Belém ou tortas de Azeitão; carros de bebé, puxados por pais babados em languidas caminhadas, antes que os pirralhos despertem em birras e choros e merda e o raio que parta as criancinhas e os seus caprichos. Enfim, um domingo normal portanto, para quem é "casado, fútil, quotidiano e tributável" (Pessoa dixit).
Regresso a casa. Naturalmente passo na ex-zona semi-industrial de Lisboa. Sempre me fascinou o ar decadente deste lado da cidade. Conhecia-o bem quando, em miúdo, acompanhava o meu pai na distribuição de cartas por Marvila, Beato e Poço do Bispo. Acho que ficou na arquitectura do local, nas gentes, e no ar abandonado das quintas, edifícios e fábricas algo da revolução industrial do inicio do século XX. Atmosfera que o local ainda vai guardando a sete chaves. Passo junto à Fábrica de Braço Prata, onde antes se congeminava a guerra, hoje as artes. Nas traseiras três murais indicam que as artes andam inquietas por aqui. Um com fronha de bolchevique pintado em estilo pop warholiano, sobre as palavras fake e behave. Logo ao lado encrostado na parede, cheio de expressão, o rosto de uma mulher. Aquele rosto, carrega em si mesmo, toda uma história. Quase que se sofre, tanto quanto aquilo tem um ar sofrido, com a pseudo-vida daquela mulher, marcada pelo escopro que mutilou aquela parede. E no entanto, da tristeza dela parece que emana uma paz no olhar de que ainda há esperança. Diferente do olhar triste e sem fundo, apesar das lágrimas, do companheiro composto em tiras de papel de vários tons, colado sobreposto para lhe darem forma e expressão de quem carrega em si todos os males do mundo.
Continuo, e mais á frente lá está no seu passeio rotinado, um velho preto, meio manco, apoiado na sua bengala. Passeio a baixo, passeio a cima. Há anos que o vejo, sempre sob o sol da manhã, naquele, passeio-abaixo-passeio-acima. 
Vejo-o sempre com fatiota de domingo, mesmo que dia de semana. Jaquetão traçado, calça vincada, entrevejo-lhe, apesar da velhice, alguma altivez naquela vaidade de pobre. Imagino-lhe os pensamentos e o porquê daquele passeio, anos naquilo - passeio-abaixo-passeio-acima. Talvez o sol lhe faça matar saudades de África. Mas falta-lhe o cheiro. O cheiro do calor de África é diferente (Aterrei em África à noite e mesmo de noite, o cheiro marca). Talvez sonhe, naquele pedaço de passeio, com a liberdade daquela terra sem fim, a perder de vista. Imagino que ele se imagina a si, quando suavemente manca naquela calçada de pedra, em passos pequenos e lentos, a vaguear sob o poeirento chão de cor ocre num qualquer muceque angolano. Ninguém devia ser privado de morrer na sua terra natal quando a ela quer voltar. Mas isto sou só eu a delirar.

Braço de Prata

sexta-feira, 27 de março de 2009

Minha??!!!

A Arte de matar

Quererá o Hugo matar a Zita só porque ela, ex-camarada da malta do PCP, decide pintar a parede da sua nova livraria de cor de laranja?

quarta-feira, 25 de março de 2009

I've seen the future, brother: it is murder.

Pensei que já mais me livraria da culpa de ter perdido três canções de um dos concertos da minha vida. Afinal, Deus — um dos deuses! — existe e parece que está de volta a Portugal. Desta vez não vou falhar e estarei lá do principio ao fim, a redimir-me do meu pecado. Hallelujah!

segunda-feira, 23 de março de 2009

Incompetência, é fogo que arde e a gente a ver

Anda o País a gastar o que tem e o que não tem em faraónicas obras públicas e chegados só a Março já não conseguimos, com algum investimento e visão estratégica, preservar os nossos bens naturais mais preciosos.

domingo, 22 de março de 2009

Sporting 1-1 Benfica [2-3 após g.p.]

Bem-aventurados os que não entendem nem aspiram a entender de futebol, pois deles é o reino da tranquilidade.
Carlos Drummond de Andrade, Sermão da planície (para não ser escutado).
O resto do sermão, para os tranquilos e para os nem tanto, aqui.

segunda-feira, 16 de março de 2009

O barbeiro corta sempre duas vezes (uma na casaca outra na trunfa)

— diga-me lá!!?? Como é que ela vive??! com 400 euros de renda, mais água e luz e transportes!! (o pai indignado, sobre aquela antes a filha querida)
— ...e, e ela fuma? (pergunta como que cheio de zelo, navalha na mão e dedo mindinho com unha de 2 centímetros em riste para marcar a patilha)
— nnn...não! acho que não! sei lá! dali já espero tudo! pelo menos nunca a vi fumar...
— ààhh! (como que aliviado) "prontos"! se não era mais uma despesa!! (muito preocupado!!)
— ele é que me surpreendeu! Um esmero a tomar conta dos miúdos.
— Veja lá (navalhada final na conversa) e a família dele é que era isto e aquilo...
— pois era
Era, era. Atrás dos tempos, tempos vêm.

domingo, 15 de março de 2009

Tempos estranhos estamos vivendo

Sábado. Um dia ambíguo apesar do sol e da praia. Carpe Diem. Para a noite, estava reservado um jantar de amigos, com surpresa de encontros e também ele ambíguo quanto a novidades. Umas más, outra boas. A crise. A omnipresente crise, na qual todas as conversas, como que, por fatalidade, desembocam. E no entanto, alegrias. Daquelas que só quem tem filhos pode sentir e que no contexto, servindo de antídoto à depressão dos tempos, de certo serão a vara que impulsionará o salto sobre a malfadada desdita.
De alegrias e tristezas, regadas com um muito optimístico tinto, se falou, e se dizem que entornar vinho dá sorte, ou é alegria, então o derramado (sobre o qual, não vale a pena chorar) na cadeira foi pouco. Haja saúde!
A provar a volatilidade e estranheza dos tempos, a meio do jantar um telefonema serve para, num momento, pôr toda a vida em perspectiva e perguntar se vale a pena estas lutas e sacrifícios. Para de repente o abismo. Qual o sentido da vida, que tipo de ordem superior se encarrega de jogar assim as peças deste xadrez no tabuleiro desta vida que em sorte nos calhou. Assim, sem mais, de forma fulminante, sem que nada o fizesse prever. O que vai na cabeça de quem ficou. Quando, por uma força estranha, o que designamos por ordem natural das coisas, extrapola e dá de repente um coice na vida, há uma necessidade de tentar entender o porquê. Eu não o entendo. E a única justificação que me acalma o espirito e de forma ausente me prende a certos ideais cristãos, encontra refúgio no ultimo verso de uma velha música dos Trovante: Mas Deus leva os que ama / Só Deus tem os que mais ama. Assim seja.

sábado, 7 de março de 2009

Limpeza

Cheguei a casa e estava tudo num brinco. Tudo arrumado, demasiadamente arrumado. A minha mãe limpa-me e arruma-me a casa como se da própria casa dela se tratasse. Esta compulsão para as limpezas leva a que não poucas vezes, perca o norte ás coisas na minha própria casa. Claro que, recuperado o sentido às coisas, dormir em cama lavada, é sempre diferente. Contudo, esta mania que minha mãe tem de achar - achar não, ter a certeza - que só as coisas, como ela faz e arruma, é que ficam bem feitas, deixa-me quase em estado de neurose psicótica. A quem sairei eu assim?
Novo ciclo se aproxima. Desperto para isso quando hoje a arvore do quintal das traseiras já toda ela em flor. Parece uma amendoeira, mas a minha botânica ignorância não permite afirma-lo. Mais certo que não seja. Parece que de facto, tudo em ciclo se vai renovando. Tudo? Tudo não. O cão e a fraga (a ave pela qual nutro um ódio de estimação) com o seu constante esgar de pio aflitivo, continuam ciclicamente na sua entediada e triste rotina de reclusão. O canídeo também tem os seus momentos, ladrando e uivando, horas seguidas. Mas, quem não reclamaria se estivesse dias e dias seguidos, amarrado a um metro de corda, que atire a primeira pedra. Quais as motivações que levam aquela besta a ter preso num enorme quintal, um canito de pequeno porte sem nunca o soltar? Que tipo de amor, terá aquela avantesma de robe branco pelo nobre cão?, em nome do quê, inflige aquela cavalgadura tanto sofrimento na vida do pobre bicho, tornando-a tão redutora?
Pudesse eu, e era o dono que amarraria à barraca e lhe serviria em gamela ferrugenta, a merda do comer que ele faz o favor de deixar ao animal.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Era uma vez:

Era uma vez uma tribo jovem e dinâmica que existia num reino situado no muito batido e gasto, cantinho à beira-mar plantado. Governado por gente, também ela muito batida, plantada já com raizes, que fazia o favor de pensar - em como se governar a si, e não - em prol do bem comum. Tudo corria bem e todos enchiam os bolsos, enquanto a plebe continuava a ginasticar o orçamento mensal, na cegueira, de também eles, praticarem com muita sapiência um dos seus pecados capitais preferidos, que lhes permitia encontrarem justificação para a ida à sagrada missa dominical, no carro novo, pago com o muito e para não variar, também ele batido, sangue, suor e lágrimas. A Luxuria. Embora, enfim; "Vanity, is definitely, my favour sin".
Até que, nas bolsas por esse mundo fora, durante o ano da graça de 2008, começaram a estoirar uns (agora, oportunamente denominados) activos tóxicos, ficando tudo por aí a cagar e a tossir, até não poderem mais. E nem a chegada do messias-café-com-leite vindo do novo mundo, foi o suficiente para travar a descrença no futuro. Vai daí, toca, uns, a alongar a fila da sopa dos pobres, e outros (por enquanto, só) a redobrar a fé no Senhor, na esperança de que semelhante desgraça não toque à porta.
Naquela tribo, que não vivia fora da realidade, mas que foi vivendo, no também esfalfado, a leste do paraíso, andava tudo tefe-tefe e aquilo que a muito custo se tentou evitar, chegou em força e de forma radical por alturas do solstício de verão. E onde dantes haviam quarenta, passaram a haver vinte que tiveram que virar quarenta para que de vinte não tivessem que restar dez. A luta foi dura, mais dura a razão que a susteve, e pelo seu quinhão, cada um, parecendo dois, labutou. Longas se tornaram as jornas até que novo ciclo de prosperidade começasse e fumo branco surgisse, de novo, do acampamento daquela tribo e das restantes espalhadas por todo o reino. Enquanto isso, nos palácios reais, por três vezes, naquele ano de 2009, se reuniram as cortes e mudando as moscas, de resto, mais ou menos tudo ficou na mesma, com matizes de cor, ora rosados, ora alaranjados consoante o prisma de observação, sempre perante o olhar atento da cavaquica esfinge que presidia ao reino, e do engenhoso charlatão socrático que o governava. Era uma vez. Não foi?

Soul power

Falar em relações humanas e música à mistura, puxa-me para pensar que esta simbiose pode tornar-se uma coisa desagradável. Se gostarmos de música, acabamos por relacionar esta ou aquela pessoa, uma ou outra situação com determinada canção, autor(a), cantor(a). O mesmo se passará com locais, vinhos, livros, uma infinidade de coisas que nos fazem lembrar outras tantas. O chato é precisamente ouvir uma música e involuntariamente o nosso cérebro levar-nos a pensar em quem, ou no que, não queremos. Sobretudo se gostarmos mesmo daquilo que ouvimos. Na realidade tudo isto vem a propósito do post anterior e de como isto anda tudo ligado. Porque o que eu queria mesmo, era que, apesar de ser uma besta, me fosse devolvido o meu cd da Aretha Franklin e do Otis Reading à minha colecção particular, pois não consigo compreender que tipo de ressabiamento pode levar alguém a espoliar um homem dos seus objectos mais pessoais. Eu sei, se me fizessem a mim, talvez a coisa não ficasse por menos que uma boneca de voodoo, toda espetadinha até não haver tecido para mais alfinetes. Mas o caso não é para tanto. E eu, também sou bonzinho, e até já perdoei e esqueci a cassette do Caetano. Afinal, eu já nem teria onde enfiar aquilo.
Não, aí não.

quarta-feira, 4 de março de 2009

No que às relações humanas diz respeito, não haja dúvida, sou um autentico elefante numa loja de porcelanas. Se a coisa tiver como bónus o sexo oposto, então a coisa é exponenciada ao cubo. A propósito disto lembro-me de um concerto de Ben Harper, em que só dias depois percebi o que me foi dito ao ouvido: - beija-me, e eu, surdo como uma casa - desculpa, o quê? e ela - beija-me!! e eu - não percebi! completamente afogado em decibéis de Sexual Healing. E lá se foi um momento romântico. Desastrado, a cereja em cima do bolo foi a mala dela ficar a parecer um passevit, de completamente furada por um acidente tabágico a meio do Burn one down. Ontem. Com tantas noites para morrer em cima da cama, às dez e tal da noite, sem ouvir o telemóvel, tinha que ficar podre de sono no dia (ou antes na noite) em que um telefonema podia animar as hostes. Perdi a graça. E a oportunidade.
Estava a preparar um texto para postar aqui, quando interrompido pelo trabalho, gravei o ficheiro para o desktop do mac e no meio da fobia das limpezas, acabei mais tarde por apaga-lo. Em desespero de causa tento recupera-lo. Julgo que sem sucesso. Agora não consigo apanhar o fio à meada e a única coisa que consegui, foi escrever esta merda, em tom de desabafo, completamente inócua e experimentar a frustração de perder uma ideia a meio. Foda-se.