quarta-feira, 30 de setembro de 2009

O que foi, já não volta a ser.

Há um momento, quase no fim de Cheri, em que Léa de Lonval - Michelle Pfeiffer, aparece em grande plano, de frente para o ecrã e toca levemente com a mão no seu próprio rosto. É uma cena simples e despida de adornos, em que somos levados a crer que a face da personagem está, naqueles segundos, a sofrer um processo rápido de envelhecimento e em que ela faz um balanço da vida e se confronta com a sua própria finitude. Ela com a dela, nós com a nossa.
Nada mais natural para um cínico do que participar num almoço de família, recentemente e não pelos melhores motivos, re-unida. Ma non troppo.
O hífen não aparece por acaso.

domingo, 27 de setembro de 2009

Depois de uma vitória de Pirro:

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?(...)
Carlos Drumond de Andrade; José.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Foi preciso subir, no final da tarde ao Terraço, a esplanada do Chão do Loureiro, para aproveitar e acabar de vez com a Viagem do Elefante, que, coitado, já devia estar farto dela. Seguramente por culpa de quem o lia, obrigando-o, além das paragens da Viagem em si, a outras em cima da mesa de cabeceira ou do móvel da televisão, aguardando o avanço de mais um capitulo. Mais desagradáveis terão sido as constantes viagens entre Lisboa e Massamá, dentro da abafada mala, que o Elefante foi obrigado a fazer, sem que isso se reflectisse obrigatoriamente no avanço da sua leitura. Apesar do frio e do gelo, ele deve continuar a preferir caminhar em montes austríacos, do que ser passeado dentro de uma mala no IC19. Mereceu, portanto, o paquiderme chegar à fria Viena de Austria e ao final da história, empurrado pelos goles de uma caipirinha sob o sol quente de Lisboa. Aquela a quem Frank Sinatra dedicava I've got you under my skin directamente do sonoro da aparelhagem da esplanada. Lisboa colasse-nos à pele.
Ao que parece a concessão está a acabar, e uma das esplanadas mais bucólicas, dolentes e democráticas de Lisboa - porque transversal e acessível a todos, vai dar lugar a mais um restaurante de luxo, que será, evidentemente, acessível...a quase ninguém. 

Silêncio

Isto é um open space, um espaço aberto em que tudo é comunitário, mesmo que não queiramos. E assim durante a hora de almoço deles; o mac do chefe, em frente a mim, tem música a tocar, o mac do meu colega do lado solta som pelos headphones, o pc da recepcionista espalha as ondas da Comercial como que saídas de dentro de uma lata, o portátil do account esgana-se com house, e eu duvido se não estarei a entrar numa espiral de paranóia sónica contra a música espalhada pelo meio da sala.
Ponho os phones, mesmo sem querer ouvir música, apenas para servir de barreira sonora ao mau gosto alheio, que sinceramente não pedi e obviamente dispenso sem grande remorso.
Desconhecia que era preciso ter uma profundidade intelectual e filosófica tão grande para viver em Lisboa; pensei que teimosia e paciência bastassem — além de um grande amor que não espera nada em troca, apenas que, não a melhorando, também não a estraguem mais. É que é preciso resistir a essa gente que tenta fazer da cidade um sitio exclusivo para ricos, classe média alta e estrangeiros viverem,  como se resiste ao transito selvático, ao caos urbanístico e às sucessivas promessas (repetidas despudoradamente) em tempo de campanha eleitoral por candidatos a caciques que governam em proveito próprio ou das organizações em que militam.
Querem exibir riqueza e desfilar no Chiado? pois sejam bem-vindos. Ajudem o comércio local. Mas depois façam o favor de voltar para os condomínios de Belas, comer fofos e jogar golfe, ou para Cascais, andar à vela e falar anasalado. Repito, mais vale meia assoalhada em Lisboa que quatro fora. Vão se foder. A mim não empurram para um T2 no Cacém ou na Baixa da Banheira, mesmo com closett, banheira de hidro-massagem e garagem.
Lisboa é uma cidade do povo e só o povo lhe pode dar a alma a luz e o colorido que tanto(s) lhe gabam. Pelo menos aqui, nesta Lisboa que eu amo.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

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Moutinho ao marcar a grande penalidade a favor do Sporting, tentou fazer a paradinha à Simão. Pena ter-lhe faltado a naturalidade dos génios.
E o que escrevi disse-o sentado a uma mesa, por ironia do destino, no café do cinema onde vi o filme. Divagando num longo monologo monopolizador de conversa, disfarcei como pude as minhas incompetências no relacionamento humano; não sei se sem causar enfado na interloctora com que tive a oportunidade de beber uma cerveja belga, algo doce, que espero no futuro não me venha trazer algum amargo de boca. Mas que se lixe, não estávamos a falar de liberdade de escolha, livre arbítrio e necessidade de arriscar?

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Nem Salaviza mostra Chelas - mesmo ela estando lá imponente e inteira - nem Ang Lee conta Woodstock. O que ambos mostram é a liberdade, ou falta dela e os custos a suportar pelas decisões tomadas. E é isso que incomoda e inquieta quem preferiu o conforto de uma vida pré-formatada ao risco de uma vida mais libertária. Nunca se saberá o que não foi, e deveria ter sido.
Primeiro Arena cheio de silêncios perturbantes a desembocar num final simplesmente desconcertante (ou melhor; desconcertantemente simples), depois Taking Woodstock, não pela realização mas pela temática à qual o mítico festival apenas serviu de trave. Não ficam na galeria dos meus filmes preferidos, mas os ténues reflexos que vi projectados no ecrã em ambos, chegaram para que saísse da sala com inquietações melancólicas que nem a vitória do Benfica e a companhia de amigos fizeram desvanecer.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Golo, golo, golo, golo, golo, golo, golo, golo

I'm gonna fight 'em all A nation army couldn't hold me back They're gonna rip it off Taking their time right behind my back

Para ver em modo repeat.

Os deuses devem estar loucos.

Atrás de mim um puto, preocupado, perguntava ao pai: o que é que acontece se o Benfica marcar o sete? O sete, marcou o sétimo e matou a curiosidade do puto. O Setúbal, esse, já tinha morrido antes do intervalo. Ainda pensei que já nem voltasse após. Por falta de comparência só perderia por três; talvez fosse melhor, mas julgo que a lei não se aplica a meio jogo. É pena. Ou não.
Deus nosso senhor quando criou o mundo descansou ao sétimo dia, os deuses comandados por Jesus, não só não descansaram ao sétimo como ainda marcaram o oitavo para desespero do treinador do Setúbal que estava completamente, digamos, às azenhas. É próprio dos deuses serem magnânimos e a piedade e complacência só os tornam mais humanos, por isso, o tento de honra dos adversários mesmo ao cair do pano.
Confesso que tive alguma dificuldade em concentrar-me dentro das quatro linhas; ali, mesmo junto à linha lateral Jorge Jesus dá um espectáculo dentro do espectáculo, com as suas indicações guturais para dentro do campo em gestos largos e modos viscerais, vai sempre corrigindo o que houver a corrigir. Mesmo que já estivesse-mos na fase bater-no-ceguinho. Mais um golo ou cinco minutos de jogo e a coisa até já se estava a tornar enfadonha. Nem vale a pena achar o feito extraordinário, de facto, este ano, esta vai se tornar uma das muitas vulgares exibições do Benfica.