terça-feira, 29 de dezembro de 2009

É preciso é saber aproveitar.

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Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol.
Ambos existem; cada um como é.
Fernando Pessoa
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Há dias que ando com esta palavra na cabeça: ressoar. Fui ver no dicionário on line Priberam. Lá estava: ressoar | v. tr. | v. intr. v. tr.
1. Entoar, repercutir.
2. Fig. Cantar; tocar.
v. intr.
3. Soar de novo, ecoar.
4. Repercutir-se.
5. Ser sonoro; estrondar; retumbar.
Depois, troquei o "o" pelo o "u".
ressuar
v. intr.
Suar muito.
Descobri então que andei com a palavra errada na cabeça.
No dicionário da minha vida ressuar quer dizer andar de esfregona em riste a limpar a condensação do chão, paredes da cozinha e frigorifico até que chova, baixe a humidade e comece a chover fora e não dentro de casa. Quando começarão a nascer cogumelos na parede?

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Deve ser deve.

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Ai uixiu a méri cristemas. Ou lá o que é.

São quatro e meia da tarde e a fila para entrar no jumbo de Alfragide começa a estender-se pelos cabos d'Ávila acima. Ingenuamente penso tratar-se de um acidente, confirmo depois que não, é só a longa lista de pessoal no desemprego, avós, funcionários públicos em férias, subsidiodependentes e alguns, talvez poucos, que tendo cumprido a sua jorna, vão gastar o que têm e o que não têm (dignidade incluída) para festejar, num fogacho, mais uma noite vã. Celebra-se uma coisa precisamente pela negação daquilo do que com ela se queria proclamar. Isto para os que acreditam no espirito da coisa, que é universal e não estritamente religioso. Para os restantes será apenas mais um manjar romano.
O parque de estacionamento do centro está ao barrote. Arranjo lugar e vou à procura das parcas prendas de natal que ainda me vou obrigando a dar. Esta época do ano tem o condão de me pôr a cabeça em agua. Para quem não consegue andar imbuído do espirito fátuo da quadra, até comprar queijo e fiambre no super-mercado se pode tornar uma tarefa desesperante. Em qualquer sitio as filas são gigantes. Como se já não bastasse andar às compras ao som das canções de natal da Mariah Carey, esperar para pagar com os gritos histriónicos da Celine a gritar a very merry christmas and a happy new year aos ouvidos, torna-se numa tortura do som digna de qualquer campo de concentração. Felizmente em Abu Ghraib ninguém deve ler este blog para tirar ideias. Antes morrer na cruz. E de cabeça para baixo.
Janto e tento ganhar vontade para me enfiar noutro antro de consumismo, ali, no outro lado da Catedral, onde domingo se viu um banho de futebol debaixo de uma, inesquecível, noite de chuva épica abençoada por Jesus e seus discípulos. Tal como a chuva, o ataque torrencial, deixou o fêcêpê num pingo e os adeptos de alma benfiquista lavada. Salvou-se o Natal de 2009.
Vagueio pelo centro sem puto de ideia do que hei-de de comprar, de como fazer omeletes com os poucos ovos que me restam. Ás vezes acho que não conheço as pessoas, principalmente os que me estão mais próximos: do que gostam, o que lhes faz falta, qual o ultimo desejo. Devo andar muito distraído.
Desespero. Vou-me embora daqui. Esta gente é toda doida. Lojas num caos, encontrões pra lá, encontrões, pra cá, a roupa ao monte, tudo revirado, nos escaparates os cd´s de béstes ófes aos montes numa criteriosa desarrumação, na loja de perfumes, já sem oxigénio, apanho uma bebedeira de cheiros e quase sufoco. Para entender a brasileira que, simpaticamente, me atende, quase grito para que lhe ponham legendas nas mamas. Na porta de uma loja de roupa um segurança discute com uma preta. Pago o cachecol para uma sogra que não é a minha e saio dali.
Gastei um colhão de dinheiro e nada do que vou oferecer o irei dar com especial gosto ou critério. Cumpra-se a quadra, gaste-se o guito, engorde-se uns quilos, mas que se foda. É natal.
O dia salva-se com duas imperiais no sitio do costume e uns dislates sobre a nova música portuguesa, mulheres, cinema e as escolhas entre a prisão de uma vida pequeno-burguesa das oito ás cinco e a liberdade de viajar pelo mundo sem pensar no presente mas com iguais preocupações do futuro. O tal que a Deus pertence.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Com a ponte de segunda-feira passada, aproveitei para, em dois dias assistir ao compacto, não sei se, da Anatomia de Grey, se do Serviço de Urgência.
Só que ao vivo e a cores. Como ouvi no corredor alguém dizer, chego em Novembro, e com tanta espera, já saio em Dezembro. No sofá adormeço sempre, ali, há a vantagem de poder ser parte interveniente no episódio, é-se ao mesmo actor e espectador da acção (ou da falta dela) que vai escorrendo na passagem das horas. Procuro saber o ponto da situação, está tudo encaminhado, há que esperar resultados. Seja.
Uns vêm, outros vão, quase todos com má cara. Os olhares cruzam-se na interrogação, utente ou acompanhante. Na maior parte das vezes é evidente. Imagino a(s) história(s) de vida(s) por trás daqueles rostos. Na parede, cheia de gente, onde um papel avisa É expressamente proibido aguardar nesta zona devido à passagem das macas, encosto-me e descanso, enquanto as horas, lentamente, vão passando. Mesmo sem cadeiras, o corredor, acaba por ser menos deprimente que a sala de espera. Ali o amontoado é maior, e a televisão, fatalmente, ligada na TVI com as suas histórias de faca e alguidar, a puxar para a lagrima fácil bem ao gosto popular, só ajuda a aumentar o desespero de quem só quer um pouco de recato. Podia ser o canal oficial do Serviço Nacional de Saúde, mas no dia seguinte comprovo que, na sala de espera de uma clínica privada, é Goucha e a sua histriónica partenaire que também reinam perante a, aparente, indiferença de quem aguarda a sua vez. Mais um dia de salas de espera com TVI e quem começava a precisar de tratamento era eu. Psicológico.