domingo, 12 de maio de 2013

A viagem foi rápida, demasiado rápida. Tão rápida quanto silenciosa. Quebrada aqui e ali por uma frase de circunstância para cortar o silêncio. Entramos na cidade pela ponte Vasco da Gama, e a cidade estava movimentada. Sábado à noite, claro. Mas pareceu-me que o movimento também era silencioso. Perdeu-se qualquer coisa. Nada, claro, que mude a normalidade do dia a dia. Muda-nos a disposição nos minutos a seguir e o sentido das conversas à segunda de manhã. Saí do carro numa despedida breve, que o ambiente não estava para mais. Da janela de casa, de novo o silêncio. A cidade movimentada de sábado à noite era silenciosa. Depois percebi, não era silencio, a cidade não estava silenciosa. A cidade calou-se. Porque aconteceu o que acontece com as paixões; tudo é fatal, tudo é total. O que eu vi ontem à noite, não foi um jogo. Eu não entendo nada do jogo. Só gosto de ver, mesmo não entendendo. Eu vi dois homens, um que festejava a sorte do mundo, festejava com gestos de quem nem sonhava que tal coisa lhe pudesse acontecer, saltava com movimentos de quem não sabia como é que tinha feito para chegar ali, festejava como quem deve festejar a sorte de um euromilhões, a sorte de quem não sabe como se faz, mas que fez. E vi outro homem, um homem a cair, e que ao cair, reconheceu que caiu com ele todo um labor de uma época. Caiu o que ficou para trás e caiu o que ainda falta vir. De joelhos o homem reconheceu o fim de tudo. A época acabou ali. Nada está fechado, ainda há contas a fazer, finais para ganhar, mas aquela estocada feriu de morte um sonho. Se a sorte não foi esgotada ontem à noite, talvez os deuses do futebol dêem um ar da sua graça, se reponha a normalidade ás coisas e a cidade volte a falar. Afinal, um homem às vezes cai, apenas para se erguer com mais força.