quinta-feira, 5 de março de 2009

Era uma vez:

Era uma vez uma tribo jovem e dinâmica que existia num reino situado no muito batido e gasto, cantinho à beira-mar plantado. Governado por gente, também ela muito batida, plantada já com raizes, que fazia o favor de pensar - em como se governar a si, e não - em prol do bem comum. Tudo corria bem e todos enchiam os bolsos, enquanto a plebe continuava a ginasticar o orçamento mensal, na cegueira, de também eles, praticarem com muita sapiência um dos seus pecados capitais preferidos, que lhes permitia encontrarem justificação para a ida à sagrada missa dominical, no carro novo, pago com o muito e para não variar, também ele batido, sangue, suor e lágrimas. A Luxuria. Embora, enfim; "Vanity, is definitely, my favour sin".
Até que, nas bolsas por esse mundo fora, durante o ano da graça de 2008, começaram a estoirar uns (agora, oportunamente denominados) activos tóxicos, ficando tudo por aí a cagar e a tossir, até não poderem mais. E nem a chegada do messias-café-com-leite vindo do novo mundo, foi o suficiente para travar a descrença no futuro. Vai daí, toca, uns, a alongar a fila da sopa dos pobres, e outros (por enquanto, só) a redobrar a fé no Senhor, na esperança de que semelhante desgraça não toque à porta.
Naquela tribo, que não vivia fora da realidade, mas que foi vivendo, no também esfalfado, a leste do paraíso, andava tudo tefe-tefe e aquilo que a muito custo se tentou evitar, chegou em força e de forma radical por alturas do solstício de verão. E onde dantes haviam quarenta, passaram a haver vinte que tiveram que virar quarenta para que de vinte não tivessem que restar dez. A luta foi dura, mais dura a razão que a susteve, e pelo seu quinhão, cada um, parecendo dois, labutou. Longas se tornaram as jornas até que novo ciclo de prosperidade começasse e fumo branco surgisse, de novo, do acampamento daquela tribo e das restantes espalhadas por todo o reino. Enquanto isso, nos palácios reais, por três vezes, naquele ano de 2009, se reuniram as cortes e mudando as moscas, de resto, mais ou menos tudo ficou na mesma, com matizes de cor, ora rosados, ora alaranjados consoante o prisma de observação, sempre perante o olhar atento da cavaquica esfinge que presidia ao reino, e do engenhoso charlatão socrático que o governava. Era uma vez. Não foi?