sábado, 27 de junho de 2009

O rei está morto. Viva o Rei!

Lembro-me do 33 rotações do thriller e mais tarde do Bad a tocar sempre em altos berros, nas duas assoalhadas da casa dos meus pais, que faziam estremecer o prédio todo e enchiam de nervos o escritório de despachantes em frente a tentar trabalhar. Enfim o desrespeito total pelos outros só pelo prazer de pôr os 150W de cada coluna a bombar. Estavamos em Alfama em 1983, eu tinha 8 anos o meu irmão 12 e estavamos sozinhos em casa. Depois, aprendi, quando comecei a gostar do silencio, que alguma urbanidade e educação fazem os ouvidos de toda a gente mais feliz e retiram ao bairro um certo ar de favela carioca. Mas isso só aprendemos muita berraria depois. Por estes dias, em todo o lado, só se fala dele, até à náusea. Eu, que continuo a gostar da música que ele fazia por aqueles dias, vou ouvindo-o na voz de outro, com uma toada mais calma, para lhe sentir o gozo da letra desta música. À escala global talvez não volte a aparecer outro, pelo menos tão cedo. Para o melhor e para o pior.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Poesia II (algo completamente diferente)

Andava a passear por aqui e dei com este do Manuel Maria:
"Oh dama, por quem me aflijo Por ventura, consintais que eu introduza o com que mijo No por onde vós mijais?"
Barbosa du Bocage (quem mais?)

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Inocência e possibilidade

As imagens eram próximas
Como coladas sobre os olhos
O que nos dava um rosto justo e liso
Os gestos circulavam sem choque nem ruído
As estrelas eram maduras como frutos
E os homens eram bons sem dar por isso
Inédito de Sophia de Mello Breyner Andresen, publicado ontem no Público e colocado hoje aqui porque dormi mal com o calor, foi um fim-de-semana de merda, isto ficou-me na cabeça e porque não entendo as palavras mas sinto-lhes a tranquilidade que por estes dias vai faltando no mundo.
Rostos justos, gestos sem choques nem ruídos, homens bons sem darem por isso. Deve ter sido, mesmo, há muito tempo atrás.

domingo, 21 de junho de 2009

Even i ain't got a dime it's the summertime

Depois de ter passado o dia de ontem num sitio muito fresco mas pouco recomendável para se estar, hoje, sem disposição para filas, fico por casa Lazing on a sunny afternoon.
Cause I love to live so pleasantly,
Live this life of luxury,
Lazing on a sunny afternoon.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Um dia ainda volto pr'aqui

Mesmo de um 5º andar da descaracterizada av. Afonso III em Lisboa é possível ouvir ao longe o entoar de uma marcha popular num qualquer arraial dos arredores. E vem-me à cabeça Alfama, de onde cheguei à minutos. E que linda que ela está. Toda cheia de vida. Rua iluminadas, festões e manjericos às janelas, gente sentada às portas. Que saudades de chegar e sentar no degrau da escada da minha velha casa. E no entanto as idiossincrasias que nos fazem deseperar. Como aguentar a cusquice das vizinhas; como não desesperar com a musica em altos berros que sobe do rés-do-chão como se estivesse dentro da nossa própria casa; como aguentar com a vizinha de cima em saltos altos a varrer a casa de chão de tábua corrida ás 7.00h; como aguentar o fogareiro do restaurante, debaixo da janela de casa, a assar sardinha às 22h, numa noite de calor como esta em que todas as janelas são poucas para fazer circular o ar?; Como fazer perceber a singularidade do lugar a quem lá habita há tantos anos e não o entende e respeita. São estas coisas que me levam a pensar que fiz bem em sair de lá quando lá estou. E são outras sibilinas coisas que me levam a querer lá estar quando lá não estou.
Ou com cantava o outro: "L.A is fine, but it ain't home / New York's home, but it ain't mine no more".

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Fiquei convencido

Com uma linguagem que todos os benfiquistas entendem Jesus desceu à Luz e disse: "O Benfica em termos individuais tem excelente jegadores e vão jegar o dobro do que jegaram no ano passado". Boa, com esta taxa de bazófia de gingão afadistado, o Mourinho ao pé dele parece um menino do coro. Vamos a eles Jesus!! até os comemos!! Ou como tu próprio dirias "quememos".

Há qualquer coisa de "tarantiniano" neste video

Já disponível nas fnaques e também em contrabando.

Os Tornados - Catraia from Neutral Reporter on Vimeo.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Meat is murder

Não vale a pena ser cínico nem falso moralista. Revejo-me na minha natureza omnívora e não me vejo a renegar nos tempos mais próximos um cabrito assado no forno, um simples frango no churrasco, uma posta mirandesa ou todas as iguarias que o ser humano criou a partir da carne de porco. Mea culpa, e até gosto de touradas. Mas penso que toda a humanidade devia tentar controlar os seus princípios primários de bestialidade animal. Alguma coisa tem que nos distinguir do resto dos animais do mundo. Era bom que não fosse o modo animalesco com que tratamos o que nos rodeia.

...e nem fazia mal à barriguinha

Esta deixou-me a pensar. Vale a pena ouvir as consequências do pecado da gula.

Deve ser o meu fado

A lontra chegou de branco comprido procurando o lugar com ar de dama antiga. Abancou na primeira fila do segundo balcão abanicando o folheto do programa dessa noite, como se de um leque chinês se tratasse. Ali ficou, estoicamente, durante o concerto todo, debruçada na varanda, qual carochinha casadeira a ver se alguém lhe pegava. Terá a senhora a noção das proporções; ter-se-á apercebido aquele estafermo que havia mais três filas atrás dela e que aquilo não era o camarote presidencial. Quando comprei o bilhete juro que não reparei que tinha direito a cabeçudo de Torres Vedras para ver o espectáculo. Tratando-se de fado, confesso que dispensava.
Não houvesse lugares vagos e aquela mastronsa tinha sido a mancha da Carta Branca que Camané (sem ser surpreendente) tão bem soube escrever, esta noite no CCB. E quanto a isso não há nada a dizer.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

De volta à labuta

6.30h a pé, encher a trouxa e ala. 7.20h nó de Pina Manique e o fenómeno do alargamento para 4 faixas com filas onde dantes existiam três sempre a andar. Estranho. 8.00h de novo em frente ao 24'' e a sentimento de não ter sentido falta disto.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Pintado à viola.

Retrato da Vida (titulo roubado ao Djavan. porque será?)

As paredes estão, quase todas, quase semi-nuas. Por opção. Por pura opção. A minha pessoal opinião, é que o que exponho em casa, aquilo para o qual olho todos os dias, deve ter um significado especial, dizer-me algo, lembrar ou contar-me uma história. Não me dizendo nada, não havendo história para contar ou lembrar, ali, naquela parede, em cima daquele móvel, não deve nada estar. Por isso, passado este tempo as paredes continuam vazias. Por falta de histórias e também por preguiça aguda, pouco se acrescentou ao que já existia na outra casa. Chegou no entanto a altura de acrescentar algo. Algo que me vai lembrar muita gente, muitas histórias, algumas noites e alguém, claro, em particular.
Quando comecei a frequentar a mesa do canto daquele bar entrei em contacto com gente muito diferente daquela que conhecia, experiências de vida dispares das que tinha vivido. Pessoas com uma vivência que eu não tinha, com muitas histórias para contar, umas felizes, outras nem tanto. Sempre invejei pessoas com historias para contar, o oposto da vida quase asséptica que eu procuro "levar". Enfim é preciso vive-la para conta-la. Por isso digo que sou melhor ouvinte que conversador, embora da conversa faça parte também o silêncio e essa arte tão difícil que é saber escutar e estar calado quando não há nada de interessante para dizer.
Ela tinha (tem!) muitas histórias para contar e contar. Juntamente com os irmãos, cidadãos do mundo, com muito mundo vivido, fizeram o favor de se tornarem meus amigos, aprendi com eles mais do que com certeza - a palavra é forte, mas despida de presunção, porque também, de facto nada - ensinei. Agora, em retribuição do nada que lhe dei, ofereceu-me um quadro seu que vai preencher uma daquelas paredes vazias, e eu passarei a ter mais uma história para olhar e lembrar. Obrigado.
Pensei em coloca-lo na sala, mas acho-o violento para lá. Não que isso seja mau, às vezes só com violência se alcança a paz. Tem muita força, dá que pensar, aquele quadro. Ao comenta-lo, com um amigo, encontramos até parecenças físicas com a
— que substantivo ponho aqui? deixo-os todos —
artista, pintora, autora.
Será um auto-retrato, questionámos. Olho-o e imagino-o a ser pintado como por uma descarga de energia. Como uma expiação de sentimentos múltiplos. Será?

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Foi hoje, finalmente!!!!

Um dia a fazer caretas, enganou muita gente e tornou-se numa bela tarde de praia, sem transito na ponte nem magotes de povo na Caparica. A sorte protege os audazes e até a água estava em temperatura semi-tropical. Amanhã há mais?

domingo, 7 de junho de 2009

Ir de férias ou ficar de férias

As primeiras férias deste ano. Como a maioria dos chicos-espertos portugueses, também eu, burro a matemática, fiz um esforço aritmético e com três dias de férias, lá consegui tirar uma semana inteira juntamente com o resto da turba nacional. Fico sempre algo frustrado quando chegam as férias e me dou conta de que, mais uma vez, não vou de férias, mas sim, fico de férias. É um misto de frustração e de renovada esperança de que para a próxima é que é. Desta vez não foi. Por falta de dinheiro, companhia, oportunidade, etc, etc, e mais uma série de desculpas de que não vale a pena estar a lembrar. Reflicto e questiono-me a mim mesmo: pra que ir pra fora? de tédio só morres se quiseres:

Já leste os livros todos que compraste no ultimo ano?

Não

Já foste á Fábrica de Braço Prata?

Não

Visitaste o Museu do Chiado?

Não

e curiosidade pelo novo Museu do Design e da Moda?

tenho

ao Nobai, tens tido tempo para lá ir?

Não

Lx factory já espreitaste?

não

uma tarde no Centro de Arte Moderna da Gulbenkian com direito a uma volta nos jardins?

também não

e no terraço, já estiveste?

não

Enfiares-te no 1º alfa até ao porto e voltares no ultimo para passares um dia em Serralves?

era uma boa ideia

Jazz ás no CCB, grátis às quintas?

excelente ideia

jamaica e lux?

ui

Conversa com amigos á volta da mesa sem amanhã?

tchii

Então, vai.

Se calhar uma semana de férias já não chega pra tudo isto. Vale que Lisboa está sempre por cá, nunca tira férias.

Mao tZé Socrates: terá começado a Grande Marcha para a derrota final?