quinta-feira, 11 de junho de 2009

Retrato da Vida (titulo roubado ao Djavan. porque será?)

As paredes estão, quase todas, quase semi-nuas. Por opção. Por pura opção. A minha pessoal opinião, é que o que exponho em casa, aquilo para o qual olho todos os dias, deve ter um significado especial, dizer-me algo, lembrar ou contar-me uma história. Não me dizendo nada, não havendo história para contar ou lembrar, ali, naquela parede, em cima daquele móvel, não deve nada estar. Por isso, passado este tempo as paredes continuam vazias. Por falta de histórias e também por preguiça aguda, pouco se acrescentou ao que já existia na outra casa. Chegou no entanto a altura de acrescentar algo. Algo que me vai lembrar muita gente, muitas histórias, algumas noites e alguém, claro, em particular.
Quando comecei a frequentar a mesa do canto daquele bar entrei em contacto com gente muito diferente daquela que conhecia, experiências de vida dispares das que tinha vivido. Pessoas com uma vivência que eu não tinha, com muitas histórias para contar, umas felizes, outras nem tanto. Sempre invejei pessoas com historias para contar, o oposto da vida quase asséptica que eu procuro "levar". Enfim é preciso vive-la para conta-la. Por isso digo que sou melhor ouvinte que conversador, embora da conversa faça parte também o silêncio e essa arte tão difícil que é saber escutar e estar calado quando não há nada de interessante para dizer.
Ela tinha (tem!) muitas histórias para contar e contar. Juntamente com os irmãos, cidadãos do mundo, com muito mundo vivido, fizeram o favor de se tornarem meus amigos, aprendi com eles mais do que com certeza - a palavra é forte, mas despida de presunção, porque também, de facto nada - ensinei. Agora, em retribuição do nada que lhe dei, ofereceu-me um quadro seu que vai preencher uma daquelas paredes vazias, e eu passarei a ter mais uma história para olhar e lembrar. Obrigado.
Pensei em coloca-lo na sala, mas acho-o violento para lá. Não que isso seja mau, às vezes só com violência se alcança a paz. Tem muita força, dá que pensar, aquele quadro. Ao comenta-lo, com um amigo, encontramos até parecenças físicas com a
— que substantivo ponho aqui? deixo-os todos —
artista, pintora, autora.
Será um auto-retrato, questionámos. Olho-o e imagino-o a ser pintado como por uma descarga de energia. Como uma expiação de sentimentos múltiplos. Será?