domingo, 5 de abril de 2009

Maratona

Não vai ser um ano bonito de se viver. Vidas desfeitas à nossa volta. Estamos a assistir ao degelo da falsa fartura em que todos vivemos. Ou vivíamos. A conta está a chegar, é a dividir por todos, mas não em partes iguais. Na televisão, tal como ontem e anteontem novos desempregados. Amigos a irem para o desemprego, as mulheres também. Filhos a estudar. O desmoronar dos sonhos. Logo agora que a casa quase paga. Logo agora que os miúdos quase criados, mas tão dependentes. Claro que me estou a lembrar realidades próximas e angustias amigas. Não podemos estar bem se aqueles que queremos e nos fazem sentir bem, também não estão. Não nos podemos resignar, temos de lutar, sem saber como, nem contra quem ou o quê. A constatação da fragilidade das conquistas de uma vida inteira e a falta de solução para reconstruir o castelo, por vezes construído em cima de estacas de madeira podre, que jamais aguentariam a primeira tormenta, consome a força de vontade para seguir em frente.
Existe em todos nós, a dificuldade de reconhecer que se calhar fomos longe demais e que por ventura não temos que provar que conseguimos manter ou reconstruir um palácio, tão só uma pequena casa solidamente construída bastasse. Vivemos décadas com a ideia, que nos entra todos dias pelos olhos a dentro, de que tudo é atingível, tudo é pagável, tudo se consegue com mais um golpe de rins e expedientes fatuos. A vaidade pessoal dos pobres e a luxuria dos ricos, trouxe-nos aqui. Nem uns, nem outros, quiseram abdicar. Por onde a corda parte não é preciso dizer. Espero o pior, serenamente, com a incrédula esperança de quem tem a certeza que tudo fará para passar entre os pingos de chuva, sem desesperar e sem pôr os pés na poça. Temos, todos, a obrigação de, convictamente, chegar ao fim desta dolorosa e longa maratona. Haverá alturas em que baixaremos os braços, mas serão as pernas que mesmos bambas terão de avançar. Não precisamos de chegar em primeiro, por mim, ficaria contente se chegasse-mos todos juntos. Só agora começou.