terça-feira, 5 de maio de 2009

Vozes do passado.

Há certas coisas que vão ficando esquecidas no baú da minha memória e que são resgatadas de lá quando se fazem sentir presentes. Coisas estúpidas, aparentemente sem sentido que sem querer se acumulam no cérebro e que volta não volta, voltam (que puta de redundância) á lembrança. Vem isto a propósito da morte do Vasco Granja. Era puto e lembro-me daquele programa cheio de desenhos animados aos quais não achava piada nenhuma, sempre introduzidos por nomes que à altura eram, para mim, todos russos. Do Pacto de Varsóvia para lá era, de facto, tudo era Russo. Ou soviético melhor dizendo. Escrevendo. O climax do programa eram os desenhos da Disney ou da Pantera Cor-de-Rosa, esses sim entendiveis pela chavalada. Via tudo o resto como o mal necessário para lá chegar. E às vezes não chegava. Era a frustração. Mas, passados estes anos todos, o que me ficou, lá, no tal baú, foi a voz. Foi, aquela voz que ficou, não consigo explicar porquê, mas pertence à galeria de vozes que acompanharam a infância e que tinham um magnetismo que me prendiam ao ecrã e sabiam bem ouvir, só por ouvir. Mesmo que não entende-se puto do que era dito, a parte do "olá amiguinhos" (ele dizia "olá amiguinhos"?) e do "vamos ver uma banda desenhada dum cineasta checoslovaco" (checoslovaco! checoslovaco existia!!) ficou. Como ficou o "despeço-me com amizade" do eng.º Sousa Veloso, que acompanhei durante anos (sempre antes do "70x7" e da missa dominical, Amém) sem perceber nada de reforma agraria. Mas tinha vaquinhas a cavalinhos e outros animaizinhos que compunham o meu imaginário infantil, via costela beirã e férias de verão na Pampilhosa.